terça-feira, 1 de novembro de 2011

Legalismo, justifição e santidade



Dia 31/10 é uma data muito importante, não pelo halloween...rs... Neste dia se comemora 494 anos da Reforma Protestante, nesta data no ano de 1517 Lutero publicou suas 95 teses contra diversos pontos da doutrina católica na porta da igreja do Castelo de Wittenberg, propondo uma reforma no catolicismo.

A igreja daquela época estava “vendendo” a salvação, o perdão era concedido através do pagamento das indulgências, um absurdo! Como se a Obra de Cristo não fosse suficiente, como se apenas alguns tivessem condição (inclusive financeira) de serem salvos, já pensou?!

Essa data me lembrou de um dos pontos mais importantes defendidos por Lutero e outros reformadores:
Nossa justificação mediante a fé em Cristo, na totalidade de Sua obra redentora.
Entretanto, o mesmo que ocorria com o povo que acreditava no valor das indulgências daquela época, de outra forma, ainda ocorre com os crentes de hoje.

“Compramos indulgências” quando acreditamos que padrões mais elevados de santificação nos tornam mais aceitáveis aos olhos de Deus.
O nome disso é legalismo. É tentar alcançar o perdão e a aceitação de Deus por meio de nossa obediência a Ele, através do nosso desempenho.

Na verdade, o legalismo esconde nossa adoração ao “Eu”. Afinal de contas, sendo justificado por fazer isso, aquilo ou abandonar tal prática terei meu mérito e receberei como recompensa o perdão de Deus.
É uma forma inconsciente de dizer a Deus que a obra de Cristo é ineficaz, insuficiente, mas que nós podemos dar um jeito acrescentando nosso esforço ao sacrifício da cruz.
Parece um absurdo dizendo assim, mas sem querer é a forma que agimos... Quer ver como?

Vamos supor que um cristão que acabou de se converter tem dificuldade na leitura bíblica, pula alguns textos, não compreende, e um irmão logo lhe passa um Plano de Leitura que ele assume como compromisso para terminar de ler a bíblia toda em um ano! Na sequência, ele aprende também a necessidade não só de ler e compreender a história bíblica, mas a Meditar nas Escrituras, também ressaltam ao irmão a importância de se participar das reuniões de oração, da célula e de algum ministério na igreja. Numa conferência de evangelização ele entende que precisa dar testemunho do evangelho diariamente, aprende sobre a santidade no viver e vai acrescentando cada vez mais atividades espirituais a sua vida.

Só que o que era para ser uma forma de experimentar a Graça de Deus através dessas atividades acaba por se tornar um meio de obtê-la...

Num culto, esse mesmo irmão está fervoroso, ora e louva com empolgação. Teve uma ótima semana, cumpriu todos os seus compromissos, está tudo certo!
Porém, na semana seguinte ele se sente desanimado, frio, com dificuldade de “entrar na presença de Deus”, não consegue louvar e orar, se sente desaprovado por Deus pois seu desempenho foi fraco nesta semana, ou seja, sua confiança não está no Senhor, mas no seu cumprimento das “obrigações”.

Identificamos em nossa vida o legalismo quando percebemos a falta de alegria na realização das atividades cristãs, mas obedecemos em cumprí-las acreditanto que através do serviço garantimos nosso direito de aproximação e crescimento diante dEle, como se galgássemos “cargos maiores” através do nosso trabalho, e não da nossa vocação.

Imaginamos que o legalista é somente aquela pessoa que tem uma lista de regras de “pode”, “não pode”, e mal percebemos os resquícios dessa desgraça em nossas vidas sob qualquer tentativa de justiça própria em prol da nossa justificação diante de Deus. É não aceitar como completa a obra redentora de Jesus.

Outro exemplo de legalismo pode acontecer com um cristão de longa data também. Às vezes, o cristão já conhecedor da Palavra, ciente do mundo espiritual, das hostes, do maligno, se envolve em ministério, intercessão, estudos e sem perceber uma semente daquele orgulho começa a brotar, afinal “ele move no sobrenatural”. Participante ativo das “Batalhas Espirituais” conhece o texto:

Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus. (2 Coríntios 4:4)

E o interpreta como se satanás tivesse o controle total sobre o mundo e a partir daí julga que a Batalha Espiritual é a luta exata do bem contra o mal, luz contra trevas, Deus bom versus o deus mal. Só que se esquece que a soberania é do único Rei, criador, o verdadeiro Senhor do Universo que fez céus, terra e tudo que nele há!

Paulo não está dizendo que há um deus bom no âmbito espiritual e um deus mal reninando no mundo, em outras passagens ele cita que “há alguns que se chamam deuses” (I Co 8:5-6) e os deuses dos povos são ídolos” (Sl 96:5)
Satanás é deus do mundo por aqueles que o servem como se fosse um Deus. Satanás cega o entendimento dos incrédulos por ter a permissão divina, permissão essa que a qualquer momento pode ser retirada! (Por exemplo Jó e quando Deus endurece o coração do faraó)

Toda influência do diabo está sob comando de Deus. Satanás não pode frustrar os planos de Deus.
O legalismo está quando não nos lembramos disso e aproveitamos do encejo da Batalha Espiritual para abusar de nossas habilidades e destrezas de oração, de intrepidez, súplica, clamor, jejum, adoração profética, linguas e etc., como se o destino dessa guerra dependesse do nosso desempenho.

Ao fim daquele período, eu, Nabucodonosor, levantei os olhos ao céu, e percebi que o meu entendimento tinha voltado. Então louvei o Altíssimo; honrei e glorifiquei aquele que vive para sempre. O seu domínio é um domínio eterno; o seu reino dura de geração em geração.
Todos os povos da terra são como nada diante dele. Ele age como lhe agrada com os exércitos dos céus e com os habitantes da terra. Ninguém é capaz de resistir à sua mão nem de dizer-lhe: "O que fizeste? "
Naquele momento voltou-me o entendimento, e eu recuperei a honra a majestade e a glória do meu reino. Meus conselheiros e nobres me procuraram, meu trono me foi restaurado, e minha grandeza veio a ser ainda maior.
Agora eu, Nabucodonosor, louvo e exalto e glorifico o Rei dos céus, porque tudo o que ele faz é certo, e todos os seus caminhos são justos. E ele tem poder para humilhar aqueles que vivem com arrogância. (Daniel 4:34-37)

Crer na soberania de Deus não é apenas o ponto essencial da nossa fé cristã, mas também o que nos faz ter confiança que Ele luta nossas batalhas.

E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e triunfou sobre eles na cruz. (Colossenses 2:15)

A saber, essa soberania é o que nos consola nos momentos de crise e também o que contém o nosso orgulho nos dias de triunfo. Lembrando a todos que Cristo, o Rei, quem determina os resultados das Batalhas Espirituais, e não nós.

Quando perdemos uma guerra, Cristo continua sendo Rei, quando ganhamos, nós não o somos”.

A maior Batalha Espiritual ocorre na terra quando satanás tenta confundir o crente ou diminuir nele sua confiança em Cristo e na Sua justiça imputada nele suficientemente para a salvação. Quando ele teima em dizer que vc não é bom o suficiente para servir a Cristo. Que você não merece... Ou que você é melhor que os outros, que aqueles arrogantes não merecem a salvação, que irão para o inferno!...

Esse é o ponto do legalismo. A crença em Cristo substituida pela crença em qualquer outra coisa que nos torne justos diante de Deus, sejam nossos atos, nossa justiça própria, nosso desempenho em funções ou obrigações espirituais, que por sua vez, acabam nos afastando do fundamental, do evangelho.

É um problema sério do coração humano, tendemos a nos justificar, a arrumar uma maneira de merecer a justificação, é difícil aceitar a Graça divina quando não a compreendemos.
O resultado prático desse legalismo são 2 extremos:
O Orgulho: por se achar melhor que os outros, mais certo, mais santo, mais justo, mais próximo de Deus, com mais intimidade, mais digno da presença.
A Culpa: o desespero por ser incapaz de conquistar essa justificação, achar que é indigno da presença de Deus por ser falho, pecador e não conseguir um padrão ISO9000 de santidade como os demais irmãos. (ativismo)

No entanto, observar com atenção a Palavra de Deus pode nos libertar dos danos do legalismo em nossas vidas.

Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus;
Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.
Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus;
Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.
Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé.
Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei. (Romanos 3:23-28)

A partir da nossa confiança em Jesus, Sua justiça nos é imputada. No mesmo momento nossos pecados lhe são transferidos e pagos na Cruz. Em outras palavras, não só limpamos a nossa ficha, como Deus ainda nos credita a justiça de Seu Filho.

Só que o poder do evangelho não acaba no momento em que somos justificados, mas após Deus declarar justo o pecador se inicia o processo de transformação a fim de nos tornar cada vez mais parecidos com Jesus. O que chamamos de santificação.

Santificação é um processo que se inicia quando nos convertemos e que vai durar até nosso encontro face a face com Jesus.
Está diretamente relacionada às nossas escolhas, ao nosso comportamento e requer trabalho e esforço, pois acaba por ser crescente em nossas vidas conforme combatemos o pecado, nos afastamos das tentações, estudamos as escrituras e temos determinação e afinco em obedecer a Palavra de Deus.

Crescer em santificação não nos faz melhores que os demais, não nos torna superiores, mais próximos de Deus, super-crentes, mais justos, preferidos, bispos ou derivados, mas nos torna cada vez mais parecidos com Cristo.

Essa é uma obra do Espírito Santo, pelo poder da Palavra e mediante a comunhão com outros crentes Deus vai subtraindo nosso desejo pelo pecado.

Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade. (Filipenses 2:13)

Ou será que você despreza as riquezas da sua bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento? (Romanos 2:4)

Entendemos a diferença entre justificação e santificação?

Sem diferenciar esses conceitos acabamos a deriva do legalismo e compreendê-los nos monstra que a graça justificadora e a graça santificadora embora distinta, são inseparáveis.
Em outras palavras, crendo em Jesus somos justificados e caminhando com Ele à partir daí seremos santificados, ambos através da graça de Deus, para que sejamos cada vez mais a imagem de Cristo, dando testemunho prático de sua vida e amor.

Não tem essa de que o mais fraco ou o mais santo é mais ou menos justificado. Ou a pessoa é justificada ou condenada!
O legalista confunde sua participação contínua no processo de santificação com a obra consumada na justificação.

Ler a Bíblia, meditar nas escrituras, transmitir o evangelho, servir na igreja, jejuar e muitas outras ordenanças de Deus em obediência só acrescenta bençãos em nossas vidas. (não quero que ninguém saia por ai dizendo que eu preguei que é tudo desnecessário). Desnecessário é acreditar que essas obras aprimoram sua justificação diante de Deus. Ficou claro?

É importante sempre lembrarmos que a obra é de Cristo e não nossa, que esse é o fundamento de nosso perdão e aceitação.

O povo vivia aprisionado numa imposição de que para alcançar a Deus precisava pagar, mas esse preço foi bem alto.
E em memória dos reformadores vamos nos lembrar que ainda nos dias de hoje é importante ressaltar que fomos justificados pela Graça e nenhum esforço, nenhum dinheiro, nenhum ato de obediência ao Senhor nos justificou, somente a nossa fé em Cristo.

Agora mesmo, estamos despojados diante de Sua presença revestidos da Tua justiça não porque somos competentes, mas por causa dEle.
Deus não se impressiona com nossa vigília, com nosso culto, com nosso esforço em se manter acordado, com o tempo e retórica de nossas orações, com a afinação do nosso louvor, nem com nada que fazemos!

Vamos rejeitar nossa justiça própria e vamos nos gloriar na realização da Obra de Jesus.


 (Livre Sou - Leonardo Gonçalves)


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